A Capa do Urso
"O disco carrega tanto de diário secreto como de obra cuidadosamente encenada. É um verdadeiro gesto de pop-art musical: um quadro sonoro onde se colam fragmentos de estilos, frases do quotidiano, resíduos de ensaios e lampejos de génio."
Vítor Rua
(Músico e compositor)
Ler texto completo na Rimas e Batidas


"Uma agradável surpresa"
Sérgio Xavier
(Português Suave - RUM)


"Cabral é um músico com muitas ideias e recursos"
Rui Eduardo Paes
(ensaísta, ex-editor JAZZ.PT)


Miguel Feraso Cabral: voz, guitarras, teclados, eletrónica, bateria, baixo, percussões, manipulação de cassetes, objetos

Gravado entre 2003 e 2025
(Algés e Campo de Ourique)

Músicas, letras e produção:
Miguel Feraso Cabral

Masterização: Atman Sheth,
excepto 5, 9, 11 (MFC) e 12 (AS/MFC)

Design: MFC

©℗ 2025 Miguel Feraso Cabral Rudimentol Records

Lançamento 19 setembro 2025

Album tracks

O álbum esteve quase a chamar-se Para o que havia de estar guardado. Esse título aludia, de forma oblíqua, ao recurso a esboços instrumentais que Miguel Feraso Cabral vinha gravando no estúdio caseiro e que, durante anos, foram ficando na gaveta. Muitos dos temas de A Capa do Urso nascem precisamente daí: colagens e remisturas de sons adormecidos em discos rígidos, CD-R e cassetes.

Durante muito tempo, a ideia de usar voz e letras em português foi sendo adiada. Até que surgiu a decisão de avançar, escrevendo letras em torno de perceções da vida quotidiana urbana.

Ao longo de ano e meio, escreveu, compôs e gravou, lançando três singles em 2024 e outro em 2025.

Todos os instrumentos são tocados e gravados pelo próprio, sem qualquer preocupação em manter uma consistência de estilo — em afronta ao que tanto agrada aos algoritmos. Guitarras, bateria, eletrónica, objetos variados, manipulação de cassetes e até instrumentos inventados: tudo o que produzisse som e estivesse ao alcance no estúdio foi usado para coser A Capa do Urso.

Miguel Feraso Cabral: voz, guitarras, teclados, eletrónica, bateria, baixo, percussões, manipulação de cassetes, objetos

Gravado entre 2003 e 2025
(Algés e Campo de Ourique)

Músicas, letras e produção:
Miguel Feraso Cabral

Masterização: Atman Sheth,
excepto 5, 9, 11 (MFC) e 12 (AS/MFC)

Design: MFC

©℗ 2025 Miguel Feraso Cabral Rudimentol Records

Lançamento 19 setembro 2025


BIO (versão curta)

Miguel Feraso Cabral iniciou-se como baterista em bandas de punk-rock nos anos 90 e foi cofundador do duo inicial Mola Dudle na viragem do milénio.

Desde 2003 edita os seus projetos na Rudimentol, incluindo o Nevermet Ensemble (2005), que reuniu músicos de vários continentes sem nunca se encontrarem, e obteve atenção a nível nacional e internacional.

Ativo na cena experimental e improvisada nos anos 2000, explorou instrumentos inventados e atuou em Portugal e no estrangeiro.

Em 2023 lançou “Deambul”, álbum instrumental de guitarra, eletrónica e percussão.

O mais recente trabalho, “A Capa do Urso”, aproxima-se da pop, com canções em português onde assina voz, todos os instrumentos e letras de tom mordaz e nonsense.

Paralelamente, Cabral é web designer em Lisboa, com percurso anterior em arquitetura e no ensino de artes visuais, mantendo sempre atividade como ilustrador e músico.

BIO (versão longa)

Miguel Feraso Cabral iniciou a atividade pública nos anos 90, como baterista em bandas próximas do punk-rock, e foi membro cofundador do duo inicial Mola Dudle, como multi-instrumentista e produtor do álbum "Mobilia" (AnAnAnA, 2000).

Desde 2003 que tem lançado os seus projetos na sua editora, a Rudimentol.

Em 2005, criou o Nevermet Ensemble, uma mistura e colagem sonora das contribuições de músicos de vários continentes que nunca se conheceram. O primeiro álbum, "Quarto Escuro", obteve especial atenção a nível nacional e internacional: "A sonic movie", segundo a revista The Wire.

Durante a primeira década dos anos 2000, esteve envolvido na cena da música experimental e improvisada nacional, realizando concertos a solo ou em grupo, em Portugal e no estrangeiro, sobretudo com instrumentos inventados a partir de transformações propositadamente rudimentares de aparelhos elétricos, amplificadores e materiais diversos com captações invulgares.

Em 2023, lançou o álbum instrumental "Deambul", centrado em composições de guitarra elétrica, eletrónica e percussão, atuando a solo em diversos espaços de Lisboa.

O álbum "A Capa do Urso" é o primeiro registo mais próximo da pop, no qual Miguel Feraso Cabral canta em português. Alguns dos temas partem de gravações instrumentais incompletas que foram ficando na gaveta ao longo dos anos. Além da voz, gravou todos os instrumentos: guitarras, baixo, eletrónica, bateria, manipulação de cassetes e objetos. As letras exploram a ironia e o nonsense em torno do quotidiano contemporâneo.

Miguel Feraso Cabral é web designer em Lisboa. Já foi arquiteto e professor de artes visuais, mas manteve sempre atividade artística paralela, sobretudo como ilustrador e músico.

Letras

Me

Afinal eu tinha razão
diziam que não havia razão para alarme
mas eu tenho de acordar cedo
e sair para trabalhar

desconfio que em parte pelo medo
medo de ficar sem casa
medo do que aí vem
medo do que não vem
medo de ser ninguém
medo de ser metade
de desapontar
desapontar-me

me

curiosamente 'me' é metade da palavra medo
e 'me' é também parte de metade
e de 'me'rda

me

'me' é um pronome oblíquo
estranho nome se virmos bem
estranho é eu falar disto
não interessa a ninguém

vou ter de sair


Elefante

Vamos fingir que vai tudo bem
como quem visse de fora
já nem sequer mora aqui ninguém
mas ninguém se foi embora

não encontro o elefante
que andava aqui pela sala
deixou de ser relevante
pirou-se e nem fez a mala

não sei a quantas andamos
mas vai parecendo tudo bem
entretanto afundamos
e não há bóia para ninguém


Tanta Tampa na Garganta

Hoje
acordei com vontade
de abrir a janela
e gritar

não é
sequer meu costume
deixar o queixume
levar a melhor

assim,
fechei uma tampa
guardei a garganta
para um dia pior


Pescossso

Por mais que queiras viajar
levas a cabeça contigo
não há maneira de evitar
nenhum pescoço é tão comprido

(por favor, não forcem as portas)

por mais que tentes regressar
foge-te a casa de partida
não há maneira de acertar
vai tresandar a coisa antiga

(estação terminal, pede-se o favor de saírem do comboio)


Nadador Safador

Tenho uma coisa para dizer
eu matei um instrumental
não há nada que possa fazer
assim que o disse foi fatal

queria muito ter do que falar
e o silêncio não me impediu
dou por mim só a acrescentar
nada à montanha que já pariu

creio que estava melhor calado
mas isso não é maneira de estar
não aponto para qualquer lado
vou continuando sempre a remar

encher chouriços diz o Priberam
é fazer algo tapar vazio
escorrega o nível num tobogã
pela montanha que já pariu

não aponto para qualquer lado
mas isso não é maneira de estar
não aponto para qualquer lado
mas isso não

lorem ipsum

queria muito ter do que falar


Coisas Suspensas

Gostava que tu ouvisses
a canção que nunca te fiz
mas para evitar chatices
acabei por fugir

são coisas em suspensão
que mais ninguém presta atenção


Um Dia Qualquer

Era uma vez um dia qualquer
que prometia não ser igual
acabei por reconhecer
era mais do mesmo afinal

eram aí duas da manhã
e o tecto olhava para mim
eu tentava uma busca vã
pela razão de ser sempre assim

e eu lá estava outra vez
a ver nascer novo amanhã
foi o efeito que não fez
o raio do Alprazolam

isto não é como a gente quer
vão tantos dias pela pia
a gente bem corre a viver
sem viver o que devia

vou ter de sair outra vez


Papapapa

- O sentido disto tudo é inventar um propósito
e fingir que o descobrimos

- terá de concordar que isso não faz sentido nenhum


Cenografia

Julguei que achavas um sítio estranho
que tivesses ido ali ao engano

toda a gente estava muito contente
achei que estavas a gozar entre-dentes
também

mas passavas a vida ali

bem no meio de toda aquela gente
tu parecias ser um pouco diferente

sem problemas em não estar a alinhar
que não te importavas de destoar
também

mas gostavas de estar ali

sempre que me deixava enganar
nunca era coisa vinda de fora
era altura de me retirar
a piada já se tinha ido embora

bem no meio de toda aquela gente
tu parecias ser um pouco diferente

pensei que havia uma sintonia
que estivesses a usar ironia
também

mas tudo isso não estava em ti


O Plano Maravilha

Tive uma ideia que me parece fenomenal
decidi que a partir de hoje eu vou ser genial
elaborei um plano que não pode correr mal
só tenho de mostrar o quanto eu sou bestial

só que não

e se isto fosse um pouco menos complicado
e se eu soubesse outro caminho abreviado

um homem não é uma ilha foi o que ouvi dizer
viver como um ermita não está a favorecer
é toda uma missão que mais ninguém vai querer saber
o plano maravilha não está a corresponder

e se eu fosse um pouco menos complicado
e se fosse outro que não atirasse ao lado

(estão a ligar para cá?)


Lentes de Contrato

Bem sei que tenho imensa coisa por fazer
mas isto não funciona assim

sei bem quem é que não estarei a entreter
e era suposto ser a mim

a pica foi-se
foi-se embora


O Verso da Contracapa

Sabe tão bem complicar
fazer tanto só para não ver

complicar sabe tão bem
sem saber



×

Galeria