Music
Mola Dudle
Mobilia
AnAnAnA 2000
Recorded in 1999 via telephone and mail. Micro-songs performed with handicraft-like techniques and household devices along with conventional instruments.
Composed, mixed and produced by
Miguel Feraso Cabral and Nanu.
Guest appearances:
Miguel Leiria Pereira - doublebass
Cristina Parreira, Fernanda Rodrigues, Filipa Sousa and Patrícia Tello - voices
Mastered by João Pedro Costa
Track list:
01 Deslize na Despensa
02 Camisola
03 Frisos e Vincos
04 Allo...
05 La Roquebrune
06 Par de Dans Mes Murs
07 Casa Vazia Dentro
08 Jefferies?
09 Tantos Azulejos
10 O Postal
11 Aroma B
12 Acorda
13 19:34
14 Alcatifalantes
15 Armagnac
16 Tv Bluff Pouf
17 Vulgaris Poltrona
18 Os Recados
19 Poeira
20 Partypooper
21 Aroma 2
22 Vizinhos no Cano
23 Me, Myself and My Hand
24 Demoro-me
25 300 Km
Reviews
Mola Dudle - Mobilia
Há quem lute e esbraceje e grite a protestar que a música portuguesa existe para além da sopa "mainstream" que diariamente é vomitada pelos "media". Guerreiros que fazem da diferença, da originalidade e da experimentação a sua arma. Podem não ser suficientes para sabotar a ordem estabelecida mas pelo menos provam que é possível fazer em Portugal uma música liberta dos condicionalismos impostos pelos grandes meios de produção. Fazem parte deste exército ideológico os Mola Dudle, novo grupo português formado por Nanu (vozes, teclados, guitarras, programações, samplers, objectos, captação de ambientes) e Miguel Cabral (vozes, órgão de brinquedo, percussão, bateria, guitarras, bandolim, banjo, flauta, programações, objectos, captação de ambientes) do qual será apresentado esta noite o álbum de estreia, "Mobília", distribuido pela Ananana.
Os Mola Dudle não facilitam. O seu conceito de decoração mobiliária aponta para uma aparente desarrumação onde os sons se organizam como hidras numa embriaguez de referências que remetem, em Portugal, para o pioneirismo dos U-Nu (...) e, lá fora, para a estética "rock in opposition" da editora Recommended, o "cut-up" conceptual dos Negativland, a flutuação de frequências mentais dos Biota, o sarcasmo de Frank Zappa e em geral a electrónica divertida do selo alemão a-musik. Tudo junto - mais a utilização de panelas, água, televisão, atendedor de chamadas, estores, armário, lápis, interruptores, colchão, cortinados, talheres, relógio de cuco, micro-ondas, torradeira, torneira, máquina de lavar a loiça, cadeira ou moinho de pimenta como artefactos musicais e ambientes de varanda, cozinha ou Bairro-Alto - sobra ainda largo espaço de manobra para uma linguagem própria onde a colagem, o arrojo e a pluridimensionalidade se unem para formar simulacros de canções, apontamentos electro-acústicos e um swing electrónico a puxar pelos neurónios. Os ingleses chamariam à música dos Mola Dudle um "acquired taste", nós apenas recomendamos a audição urgente de "Mobília".
Público, dec 2000
Mola Dudle - Mobilia
★★★★★★★★☆☆
300 km separam Nanu e Miguel Cabral, respectivamente residentes em Sintra e Tavira, mas não a imaginação necessárias para criarem "Mobília", um dos álbuns mais inovadores surgidos nos últimos anos no território dos sons alternativos feitos em Portugal. Em torno do conceito de "casa", os dois Mola Dudle enviaram-se, reciprocamente, por correio cassetes e CDs para serem alterados pelo outro. Deste intercâmbio resultaram 25 peças cujo factor de ligação é a manipulação, seja de samples, de objectos domésticos, de fitas áudio com sons ambientais ou de "software" da 1ª geração. Entre o retro e a electrónica, o programático e o artesanal, "Mobília" centra-se na pesquisa do mistério e dos pequenos achados sonoros arrancados a uma conversação telefónica, a avarias da comunicação ou a danças cibernéticas do quotidiano. Uma música arrumar ou desarrumar quantas vezes se quiser.
Público, jan 2001
Mola Dudle - Mobilia
O bom, velho e sábio, Erik Satie, há um século, nem sequer poderia imaginar quão visionário era quando falava sobre (e praticava) a «musique d'ameublement» e das consequências que isso poderia ter no futuro mais distante. Ele dizia «d'ameublement» mas, se calhar, não supunha que essa noção de «mobiliário» (sonoro, no caso) pudesse ser ententida num sentido tão literal. Várias décadas após a consumação da estética «wallpaper music» e da sua recuperação sob as diversas acepções de «E-Z listening», «ambient», «mood», «lounge», «elevator music» e todo o resto que, agora, não ocorre, a «música para o lar» transformou-se irremediavelmente no pesadelo para o lar ou na vertigem da digestão de todas as assombrações que cada lar (ou bar de hotel, ou supermercado) merecem. Como sempre mereceram. Os remansos da família são tudo menos pacíficos e devem ser capaz de identificar os seus fantasmas.
Com a Mobília dos Mola Dudle, em trânsito entre Sintra e Tavira, há assombrações digitais que bastem, reverberações domésticas à solta, «samples» de utilitários com o freio nos dentes, distorções da realidade, sonhos seriamente perturbados, ameaças à esquina da sala de estar, «feed-backs» virtuais à solta, serviços horários triturados, latidos cibernéticos e almas do inframundo cercadas por uma muralha de percussões mecânicas em vinte e cinco miniaturas assimétricas captadas do éter eterno onde, para sempre, todas se imobilizarão.
Expresso, feb 2001
Projecto Mola Dudle lança Mobilia
"Mobília" é o título do álbum de estreia dos Mola Dudle, um projecto formado pelo duo Miguel Cabral e Nanu que se baseia na pesquisa de objectos e ambientes de casa, fundidos com alguma tecnologia e instrumentos convencionais. "Mobília" é, por isso mesmo, um álbum que foge a todos os convencionalismos, estereótipos e convenções, oferecendo um conjunto de sons repescados dos mais variados objectos. Afinal de contas a música é aquilo que nós quisermos fazer dela. E os Mola Dudle provam que é possível criar corpos mais ou menos coesos, alguns com mais pés do que cabeça, com quase tudo, desde panelas a estores, portas, torneiras, relógios, moedas, botões e tudo o mais que vier à imaginação. Miguel Cabral e Nanu pretenderam recriar situações que oscilassem entre a música artesanal, a ideia de canção e a utilização de subprodutos sonoros transmitidos à distância, por telefone ou por correio. Como processo cada um dos músicos desenvolveu uma base que o outro concluiu posteriormente, tendo sempre como mote: "casa/distância".
Correio da Manhã, jan 2001